sábado, 19 de fevereiro de 2011

Brutalidade policial e vitória dos estudantes, relato do protesto de 17/fev

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O protesto de ontem na Prefeitura de São Paulo pode ser dividido em diversos momentos.

Primeiro, a tentativa dos estudantes de terem a reunião prometida com o Secretário Municipal dos Transportes - Marcelo Branco - ou com o secretário adjunto da Secretaria de Transportes, Pedro Luiz de Brito Machado.



O MPL divulgou:
Durante a manhã, integrantes do movimento se reuniriam com vereadores e o secretário adjunto da Secretaria de Transportes, Pedro Luiz de Brito Machado, para discutir a questão do aumento. No entanto, Machado não compareceu à reunião e apenas um ofício foi encaminhado tratando de questões outras que não a negociação de redução da tarifa. Por isso, os participantes da reunião foram até a Secretaria de Transportes exigindo serem recebidos. Os mesmos conseguiram ser recebidos na Secretaria de Transportes, no entanto, a conversa não trouxe avanços nas negociações e as reivindicações agora estão sendo feitas diretamente à Prefeitura.
Foto dos estudantes acorrentados. Tirada pela vereadora Juliana, PT
Insatisfeitos com a resposta do executivo - ou a falta de resposta -, por volta do meio dia 6 estudantes tomaram a decisão de se acorrentar às catracas da entrada da Prefeitura de São Paulo e permanecer até que o executivo abrisse novamente um canal de negociação.

Uma manifestação já tinha sido convocada para as 17h na frente da Prefeitura e o protesto acabou por também ser uma demonstração de apoio a estes 6 estudantes.

Cheguei apenas pouco depois do momento em que a brutalidade policial estava no auge, em que bombas e balas haviam sido disparadas contra os estudantes. Mas era possível notar o clima, o ânimo dos estudantes e contar os feridos.

O segundo momento visível é o da impressionante brutalidade policial pouco depois do início do protesto.
Aparentemente alguns punks teriam jogado tinta na fachada da prefeitura (de fato havia manchas visíveis) e teriam ultrapassado o isolamento policial em volta da prefeitura. Porém, seja qual for a versão, o fato é que os mais de mil estudantes reunidos no local foram punidos coletivamente, e com uma violência simplesmente desproporcional.

Segundo o vereador José Américo, do PT, entrevistado pela Record no dia seguinte, se um ou outro presente ultrapassou as grades não tinha a ver com o movimento. Punir coletivamente um movimento de centenas, quiçá milhares de pessoas pelo erro de um ou dois é simplesmente vergonhoso. Pior, é criminoso.

Aliás, é lugar comum em manifestações que acabam com violência um pequeno grupo de punks fazer com que todo o coletivo pague por sua irresponsabilidade.

De toda forma, as cenas de violência foram amplamente captadas pela mídia e mesmo o criminoso Jornal Nacional não pôde esconder a realidade.
Obviamente não deixaram de anunciar o episódio como "confronto", esquecendo que para tal seria preciso que o outro lado respondesse, estivesse igualmente armado e disposto a lutar. Na verdade o que vimos foi uma demonstração - mais uma - de completo despreparo policial, de brutalidade excessiva e de descaso do prefeito e governador que mandaram estudantes serem espancados.




Marca de bala de borracha na perna
Bala de borracha no rosto
Vários estudantes foram feridos com balas de borracha, uma inclusive no rosto. Outros tantos inalaram gás e ao menos três foram levados ao hospital. Um dos estudantes, Vinícius, militante do PCB e mestrando em Serviço Social da PUC-SP, foi espancado até o ponto de precisar ser levado para a mesa de cirurgia, ensanguentado e aparentemente com o nariz quebrado.
Vinícius sendo imobilizado, sangrando muito. Foto do Uol

Como se não bastasse a polícia roubou sua mochila, na qual ele levava seu trabalho de mestrado em um pen drive. No mínimo curioso pensar na polícia, teórica defensora da lei, ROUBANDO um estudante.

A polícia de Alckmin é mesmo uma doçura.

A mídia mais tarde informou que pelo menos 3 vereadores, 5 estudantes e 2 policiais ficaram feridos. Vale notar que os policiais feridos foram provavelmente vítimas de seu próprio gás de pimenta. Não sem alguma cara de pau, a prefeitura divulgou nota lamentando a "violência usada pelos manifestantes". Kassab é um piadista.
O fato dos policiais estarem sem identificação pouco importou à mídia e sua tese do "confronto".

José Américo e Donato sendo atacados pela polícia. Foto do Uol

O terceiro momento, quando tudo se acalmou - ou quase - foi a reação dos presentes. O ódio estampado no rosto dos estudantes, a tentativa do movimento se reagrupar, as denúncias feitas pelo vereador José Américo (PT), ele próprio agredido pela polícia (junto com o vereador Donato, também do PT), e o crescimento da manifestação e preparação pra vigília.



O Deputado Federal Ivan Valente (PSOL) chegou logo após a confusão e logo foi com os demais vereadores presentes para o interior da prefeitura tentar negociar uma solução para pôr fim ao acorrentamento dos estudantes.

A partir deste momento o acorrentamento voluntário deu lugar a uma situação de sequestro. Os estudantes dentro da prefeitura decidiram que iriam se retirar pacificamente e pôr um fim ao protesto, mas foram impedidos pela polícia. Inicialmente um oficial da GCM estava comandando a operação, mas foi substituído pelo responsável pelo gabinete militar do Kassab que, então, se recusou a permitir a saída dos estudantes sem que fossem fichados e saíssem por trás do edifício, e não pela frente - o que seria uma humilhação para o movimento.



Temos então o quarto momento, em que os estudantes foram mantidos como reféns por horas pelo prefeito e por sua força policial fascista e os estudantes do lado de fora deram uma bela demonstração de desunião e imaturidade.

A divisão sectária do movimento estudantil ficou óbvia na plenária realizada sob a liderança do MPL para decidir se os 6 acorrentados deveriam sair ou se deveria ser feita uma vigília durante toda a noite em apoio aos acorrentados, que permaneceriam na prefeitura.



De início, um erro tremendo: O de deixar para quem estava do lado de fora a decisão sobre a continuidade do acorrentamento. Em toda história de greves operárias e deste tipo de manifestação, a decisão de ficar ou não cabe aos que estão dentro, aos que estão acorrentados - ou em greve de fome, por exemplo. Aos que estão do lado de fora cabe dar o apoio necessário à decisão tomada de dentro.

Mas tudo aconteceu de forma invertida. A informação que chegou de dentro era a de que alguns queriam ficar, outros sair e os de fora deveriam decidir. Na verdade, segundo soubemos antes, todos que estavam dentro queriam sair, mas cometeram o erro de deixar a decisão nas mãos de outros. A demora na plenária externa em deliberar - foram várias pessoas defendendo um ou outro lado e uma imensa confusão sobre o resultado - fez com que a polícia tomasse a decisão de não deixar mais ninguém sair sem as condições já descritas: Fichar e sair por trás.



Durante a plenária externa vimos desencontros, princípios de confusão, grupos querendo tomar decisão pelo todo, uma direção confusa e uma base rebelde. Lá dentro, os 6 estudantes permaneciam sendo humilhados, forçados a fazer suas necessidades em baldes.

Pela contagem feita, aparentemente os estudantes do lado de fora em sua maioria preferiam que o protesto lá dentro continuasse e que se fizesse uma vigilia durante a noite inteira (gritos de "Egito" eram ouvidos a todo momento), mas dificilmente esta maioria iria se manter firme até o fim da noite, visto que a maioria sequer ficou até a soltura dos reféns, nem bem 3 horas mais tarde.



O quinto momento, enfim, é o da intransigência da polícia e da prefeitura e a quebra do acordo de liberar os estudantes.

Desde pelo menos as 18-19 horas que as negociações para a libertação dos estudantes começaram e estes só foram liberados perto da meia noite.

Os vereadores presentes - soube-se que o Police Neto chegou por volta das 10 e meia da noite - passaram horas a fio negociando e o deputado Ivan Valente, ao sair para dar um informe da situação foi impedido de retornar à prefeitura pela polícia e apenas muito depois conseguiu entrar por porta paralela.



É incompreensível a intransigência da PM e da GCM e a vontade destes em segurar os estudantes como reféns até altas horas, esperando sem dúvida que o protesto esvaziasse e que a imprensa fosse embora. Aí poderiam fazer o que bem entendessem. Mas até o fim pelo menos 150 estudantes ficaram firmes esperando que os companheiros saíssem.

Temos então nosso sexto momento, a saída vitoriosa e triunfal dos estudantes!



Depois de horas de tensão, de confronto e negociação os estudantes finalmente foram libertados e, pulando e gritando, foram recebidos por uma multidão que os esperava do lado de fora.

Foi, de maneira incontestável, uma vitória do movimento estudantil e uma demonstração de força. Ao saírem pela porta da frente, mostraram ao Prefeito que não irão recuar, e que não aceitarão nada além da vitória.



Os protestos vão continuar, quinta deve haver mais uma manifestação.

AMANHÃ VAI SER MAIOR!

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