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terça-feira, 22 de março de 2016

Alguns pensamentos enquanto o Islamofascismo ameaça Bruxelas

Ele é um refugiado. Não tem nada a ver com o que aconteceu e é também uma vítima dos terroristas.  Mas é solidário.
Eu adoro Bruxelas. Na verdade eu sou apaixonado pela cidade e já a visitei diversas vezes. Já me embebedei diversas vezes por lá, me encantei, conheci pessoas, participei de congressos, comi chocolate até não poder mais....

O sentimento é de raiva, tristeza e impotência. Exatamente aquilo que os terroristas esperam e, infelizmente, eles conseguiram. A tragédia já era anunciada há tempos. Era questão de quando.

Eu estava dormindo e acordei com um incômodo. Tentando voltar a dormir pensei "deixa eu ver o Twitter, tem algo errado". E tinha. Cenas chocantes, pessoas correndo, bombas explodindo e a notícia de mais e mais mortos no coração da Europa.

Além disso também surgiram os liberais de esquerda pra colocar panos quentes. E estes (os liberais de esquerda e os panos quentes) são os que ajudam a tornar impossível o combate ao fanatismo religioso e ao terrorismo islâmico.

Li, pasmado, um tuiteiro catalão tentar comparar os terroristas islâmicos aos judeus sob Hitler. Oras, os islâmicos são vítimas como os judeus foram, me disse um:
"TODO el terrorismo bolchevique-comunista se calificaba de judío por los nazis. Estudie la historia..."
Interessante. A diferença, digamos, básica é que os judeus eram ACUSADOS por Hitler, acusados falsamente, usados como bodes expiatórios, ao passo que os islamofascistas são, enfim, islâmicos.

Claro que precisamos diferenciar o islâmico do islamofascista, mas o segundo está contido no primeiro, pese a relação inversa não fazer sentido.

Sempre me incomoda quando, após atentados envolvendo muçulmanos, começam os gritos por "vocês muçulmanos tem que se manifestar, tem que se desculpar, se responsabilizar"... Discordo. A ação de fanáticos não é obra da maioria. De fato acho coerente que muitos se manifestem em pesar e repúdio - e muitos o fazem - mas não tenho direito a exigir nada e quem se cala diante do terrorismo praticado pelo ocidente contra o Oriente Médio tem menos direito ainda.

Porém, existe uma escala de responsabilidade que é preciso ter em mente: Aqueles que convivem nos mesmos bairros, nos mesmos espaços, nas mesmas mesquitas que radicais e fanatizados tem, penso eu, maior responsabilidade que os que não convivem com os radicais. Maior responsabilidade em denunciá-los ou mesmo em educá-los.

E todos nós temos responsabilidade também em pressionar nossos governos a parar com bombardeios criminosos, a parar com a política de fazer e desfazer ditaduras e ditadores. A parar com qualquer tipo de comércio, contato ou acordos com criminosos Sauditas, com militares assassinos e genocidas por todo o mundo (e, no caso aqui tratado, por todo o Oriente Médio).

Existem escalas de responsabilidade para todos nós.

Uma das responsabilidades pela situação também é do liberalismo europeu. Aquele que acha que censurar a internet é a solução ou mesmo parte dela para controlar os terroristas e o acabar com o terrorismo. Acham que lutando contra criptografia enquanto despejam bombas no Iêmen irão acabar com a reação terrorista.

Porque uma coisa é importante notar: O terrorismo é, por vezes (mas nem sempre) a reação do oprimido. Isso não quer dizer, no entanto, que a reação é justa ou tolerável. Não quer dizer que devemos cruzar os braços e aceitar. Não, pelo contrário, isso deveria nos dar mais força para combater as causas de parte dos problemas.

E digo parte porque nem todo terrorista vem do Iêmen bombardeado ou da Síria destruída. Muitos nascem e crescem em bairros europeus. Muitos até sofrem preconceito pela origem, outros não. Os backgrounds são extremamente diferentes. Muitos se radicalizam ao ver imagens do que o "ocidente" faz ao "seu povo", outros se radicalizam através do contato com outros já radicalizados. Outros são apenas malucos e há ainda de tudo, desde reprimidos sexuais e desajustados e criminosos que encontram no fanatismo religioso uma resposta às suas crises (não muito diferente do efeito de certas igrejas neopentecostais no Brasil, ressalvada a proporção). Em geral o neoterrorista islâmico na Europa é um indivíduo que busca uma identidade enquanto vive em uma constante tensão entre a tradição de sua família e a modernidade que o cerca.

Entender tudo isso não implica, no entanto, na concordância, aceitação ou mesmo legitimação de seus atos contra civis.

Se podemos entender parte do que se passa, não podemos concordar ou calar. E, mais importante, não podemos nos deixar encantar pelos discursos extremados de direitistas que buscam culpar os refugiados ou mesmo culpar o islamismo em si pelas ações de uma minoria fanatizada. As maiores vítimas do terrorismo islâmico são exatamente os islâmicos, não à toa estão fugindo para a Europa.

Voltando ao liberalismo europeu (e por liberalismo não me refiro ao econômico, imagino que tenha ficado claro, mas à interpretação liberal que mesmo a esquerda tem adotado dos direitos humanos e se mostrando cada vez menos capaz de lidar com as dicotomias entre direitos individuais e coletivos, algo que se expressa muito bem no fenômeno dos e das Social Justice Warriors), há os que simplesmente jogam a toalha dizendo que enquanto nós, ocidentais, não respeitarmos os direitos dos muçulmanos no Oriente Médio não mereceremos respeito em nossa terra. Há ainda quem ache mesmo legítimo sofrermos atentados pelo que "fazemos" com outros. Ou os que dizem ser impossível fazer alguma coisa contra os que pregam ódio porque... bem, apenas "porque".

Diante de posições como estas fica realmente difícil pensar em alternativas. E sim, ouso pensar que temos alternativas. Apenas retirar tropas do Oriente Médio, nesta altura, não resolveria nada. Como comentei, o terrorismo islâmico não é apenas reflexo disto, mas também de tensões identitárias que se apropriam a situação do Oriente Médio para legitimar ações. É preciso de políticas conjuntas, que vão desde políticas sociais amplas e concretas em bairros de maioria muçulmana buscando por um fim ou ao menos mitigar a guetização que muitos sofrem, à ações mais robustas de integração e melhoria da qualidade de vida.

Passa também, sem dúvida, pela não-tolerância à discursos religiosos de ódio. Passa por não aceitar excrescências como Sharia4Belgium e outros grupos proto-terroristas que são incubadores de soldados para o terrorismo religioso. Passa por uma interpretação menos liberal/individualista dos direitos humanos para uma interpretação mais coletiva, de responsabilidades sociais coletivas....

Passa por não permitir que aqueles que tenham ido à Síria possam retornar. Se foram capazes de tomar a decisão de ir (direito individual), não deveriam ter o direito de voltar e colocar em perigo o coletivo (direito coletivo).

Enfim, medidas e mudanças de mentalidade integradas, não isoladas, mas que dificilmente serão levadas a cabo. O futuro é sombrio. No momento resta chorar por Bruxelas, pelas vítimas e pelo que virá.

PS: Uso o termo "islamofascismo" por entender que há mais uma questão ideológica ou mesmo identitária envolvida que religião em si e concordando com Zizek.
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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Do ECAD ao Paulo Coelho: A saga do MinC continua ...

Por Reginna Sampaio, @BrazilPalestine, para o Blog do Tsavkko.

Já é normal a grande quantidade de acontecimentos estranhos vindos do MinC mas o que nos chama atenção agora é o Festival Europalia. Esse festival, já em sua 23.ª edição, é um megaevento cultural europeu que acontece na Bélgica ( que se estenderá por mais cinco países - Luxemburgo, Holanda, Alemanha e França - ) e que terá em 2011 o Brasil como tema.

A importância do Festival é tamanha que será aberto esse ano , dia 04 de outubro , pela Presidente Dilma.

Até ai tudo normal não fosse um curioso fato: O descontentamento dos organizadores belgas com as atrações culturais que serão levadas pelo Brasil ao evento. Esse descontentamento se daria porque as atrações culturais que estarão sendo levadas seriam de pouca expressividade .

Essa pouca expressividade, segundos os belgas, fica notória principalmente no tocante as atrações musicais e literárias. Esperava-se que o Brasil levasse à Bélgica grandes nomes da música popular brasileira o que não vai acontecer. Porém o que trouxe mais indignação aos organizadores do evento tem nome e sobrenome: Paulo Coelho .

Não é novidade alguma que Paulo Coelho é hoje a maior referência que se tem no exterior da produção cultural brasileira e exatamente por isso a organização do evento achava vital a presença dele no festival. Usando-se sabe lá quais critérios o MinC foi contra o que foi proposto pela organização do evento e decidiu não levar o escritor carioca ao festival.

A partir daí as relações entre a organização do festival e o MinC desandaram de vez. Declarou a Ministra Ana de Hollanda: "A visão dos belgas não é a mesma que a nossa, precisa haver um afinamento". Bem, a visão dos belgas é clara: levar ao festival os nomes mais expressivos da produção cultural e artística brasileira. Resta então a dúvida: Qual será a visão do MinC?

Diante toda essa celeuma entre os organizadores do festival e o MinC a curadora Flora Süssekind se posicionou da seguinte forma, referindo-se aos organizadores belgas: "São pessoas despropositadas que não tem informações sobre o que está acontecendo".

Apesar disso Flora Süssekind solicitou aos organizadores do festival a utilização do centro cultural Bozar, um dos mais importantes centros culturais europeus, tendo ouvido a seguinte resposta: "não podemos receber nesse espaço ninguém menos que o escritor Paulo Coelho" resposta essa baseada no fato de que apenas ele conseguiria lotar o espaço.

Então Flora Süssekind decidiu dispensar a utilização do espaço cultural Bozar pelo Brasil .

Ante todos esses fatos e somado ao fato de que o Brasil gastará nesse evento 30 milhões de reais, o mais caro projeto até agora realizado pelo MinC, ficam algumas questões:

1 - Quais os critérios utilizados pelo MinC na escolha daqueles que vão representar o Brasil em eventos nos quais são utilizados verbas públicas?

2 - Sendo o Festival Europalia o maior evento cultural da europa porque, e justamente no ano em que o Brasil será homenageado, decidiu o MinC levar atrações culturais de menor expressividade tanto no Brasil quanto no exterior?

3 - Será que não houve realmente um preconceito do MinC contra o escritor carioca Paulo Coelho como ele mesmo disse na rede social twitter (mas para usar a imagem do escritor como um dos propagandistas da Rio 2016 não houve qualquer preconceito. Dois pesos e duas medidas ? ). Links para tuítes do Paulo Coelho: 1, 2 e 3.  

4 - A produção artística e cultural brasileira, apesar da pouca expressividade das atrações, está realmente sendo bem representada no Festival Europalia? Se está então porque os produtores do evento ficaram tão chateados e segundo a própria Flora Süssekind estão demonstrando agora "total desinteresse"?

5 - Os 30 milhões que estão saindo dos cofres públicos estão sendo bem empregados ?

Com a palavra o MinC ....

Links pertinentes: "Barrado na Belgica", do blog do Paulo Coelho, Barrados na Bélgica, da Folha e matéria sobre como ana de Hollanda é amada.

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Faço alguns comentários:

É um assunto interessante. Quem são os artistas de "menor expressividade" convidados pelo MinC? Há, aí, alguma tentativade promover artistas menores ou é apenas jogo de cena do ministério?

A pergunta é pertinente, pois o que mais vemos são financiamentos sem qualquer propósito - relembrem o caso da bolada para um blog da Maria Bethânia - para medalhões, enquanto os verdadeiros promotores de cultura livre e alternativa ficam à mingua. O caso dos Pontos de Cultura são apenas um exemplo da exclusão ao alternativo e popular promovido por Ana de Hollanda, ministra da Cultura (de qual cultura não se sabe).

Não sou leitor do Paulo Coelho, não tenho grande interesse por seus temas, mas nutro alguma simpatia por sua defesa do compartilhamento livre de cultura, algo que o faz se chocar diretamente com o MinC. Paulo Coelho chegou a escrever para grandes jornais defendendo o que conhecemos por pirataria, enqunto o MinC sob a (falta de) gestão de ana de Hollanda se aproximou do ECAD, pôs um ponto final na discussão da cultura livre e até mesmo ensaiou aproximação com gravadoras e detentores de copyright.

Não surpreende, pois, se a questão toda não se basear apenas em briguinha pessoal da Ministra com Paulo Coelho, usando "artistas de menor expressão" como desculpa.

A idéia de levar artistas menores, mas bons, não é ruim. Ou não seria, se Ana de Holanda tivesse algum histórico de incentivar esta classe. Seus incentivos se limitam aos mais abonados e famosos, tanto via financiamentos gigantes a medalhões, como seu apoio ao ECAD.

Enfim, é pertinente questionar quais os critérios usados pelo MinC na seleção dos artistas e porque investir tanto dinheiro em um evento que, aparentemente, não receberá ou não recebe tanta atenção do ministério?

As ações de Ana de Hollanda como ministra contradizem qualquer boa vontade e tentativa de inovar e promover diversidade na questão do festival.
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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Bélgica: Europa dos povos?

Enquanto 50 mil catalães saíam às ruas para protestar e exigir o seu direito à autodeterminação e o parlamento da Catalunya inicia um processo de consulta para um referendo pela independência do país, Flandres dava o primeiro passo pela independência do povo Flamengo.

Infelizmente pela direita, através do partido N-VA (Nova Aliança Flamenga), mas ainda assim uma vitória para Flandres e também para todos os movimentos nacionalistas europeus que aspiram a independência de suas regiões. Foi nas urnas que o N-VA superou todos os adversários e conquistou o maior número de cadeiras no parlamento belga, saindo na frente dos Socialistas franceses

Ainda é cedo para saber quem irá formar o governo (caberá ao Rei facilitar os acordos para formação do governo), mas a certeza é a de que o norte da Bélgica parece realmente caminhar para a separação final.

Interessante nesta história é notar a mudança radical de posição de Valões e Flamengos. No séx XIX e começo do XX era o sul francês, valão, quem possuía aspirações separatistas. A região era rica e poderosa e olhava com desdém para os bárbaros do norte, de fala estranha e gutural. Hoje, Flandres é a região rica e industrializada e é o povo desta região agora quem não deseja mais a união com seus vizinhos.

Isto chama-se democracia. Mas os países com minorias relevantes começam já a tremer. Talvez tenham motivos. Poucos países emulam a Bélgica e respeitam a decisão de suas minorias, ou sequer permitem que estas se manifestem. Bascos são ilegalizados, presos e torturados diariamente enquanto tentam fazer sua voz ser ouvida. Estamos diante, acima de tudo, de uma aula de civilidade, democracia e respeito.

McShuibhne é certeiro:
"Si el Benelux fue considerado como el germen de la actual Unión Europea, hoy los pasos dados por Flandes pueden suponer el germen de la futura Europa de los pueblos."
Se o Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) foi considerado o gérmen da atual União Européia, hoje os passos dados por Flandres podem supor o gérmen da futura Europa dos povos."
Resta saber se, chegando ao poder, o partido nacionalista se tornará um PNV e se acomodará numa aliança que lhe garanta o poder mas que pouco mude o status quo. É possível que a separação gradual pedida pelo partido se transforme um apenas um acréscimo de autonomia e uma solução para o conturbado entorno de Bruxelas. É pouco e sem dúvida os Flamengos não votaram por isto, mas a história tem o terrível costume de se repetir mundo afora.


Resta esperar para ver.

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