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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Os limites da liberdade e o vigilantismo na Rede: Marco Civil da Internet e Ciberativismo

Convido meus leitores recifenses/pernambucanos a prestigiar o debate sobre Marco Civil, Censura, Liberdade e Vigilantismo na Rede no Expoidea, dia 13 de maio, domingo, 16h:

Nos últimos anos, uma série de leis que restringem as liberdades na Internet estão sendo decretadas de forma autoritária por governos em todo o mundo, desde o Hadopi na França, até as tentativas de aprovar o SOPA, PIPA e o ACTA nos EUA, e chegando na Lei Azeredo (conhecida como AI5-Digital) aqui no Brasil – que está em debate no nosso parlamento.
Buscando aprofundar as discussões sobre este contexto, a Expoidea vai promover um instigante debate chamado “Os Limites da liberdade e o vigilantismo na Rede: Marco Civil da Internet e Ciberativismo”.
Estarão na mesa os ciberativistas João Carlos Caribé e Raphael Tsavkko Garcia. O mediador deste debate será o doutor em Sociologia da Comunicação pela UFPE, Luiz Carlos Pinto – que realizou a tese de doutorado intitulada “Ações Coletivas com Mídias Livres: uma interpretação gramisciana de seu programa político“.

DATA E HORA: 13 de maio – domingo, às 16h.
LOCAL: Espaço Ideário – Shopping Paço Alfândega.
ENTRADA GRATUITA.

PARTICIPANTES:

JOÃO CARLOS CARIBÉ


Publicitário, pós graduado em Mídias Digitais, Consultor e Criador do movimento MEGA NÂO. Criador do blog Entropia.
Twitter - @caribe

RAPHAEL TSAVKKO GARCIA


Bacharel em Relações Internacionais pela PUC-SP. Mestrando em Comunicação pela Cásper Líbero. Jornalista, Ciberativista, Blogueiro, Autor e Tradutor do Global Voices. Colunista do Diário Liberdade e Editor do blog The Angry Brazilian.
Twitter - @tsavkko

MEDIADOR: LUIZ CARLOS PINTO


É jornalista, com mestrado e doutorado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco. Sua tese de Doutorado é uma interpretação do programa político de ações coletivas com tecnologias livres. Tem colaborado pontualmente em projetos de apropriação crítica de tecnologias da informação e comunicação, mantém (a duras penas) uma linha de investigação das relações entre política, cultura e tecnologias e edita o blog locoporti.blog.br.
Twitter – @LulaPCosta
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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Trânsito, sempre o maldito trânsito ou a criminalização do direito ao protesto

Já há muito que eu venho notado - e comentado - sobre a capacidade incrível dos jornalões de tentarem retirar a legitimidade de todo e qualquer protesto que não seja do interesse deles (protesto de cansados, de estudantes manipulados anti-ENEM e etc) sempre através da mesma desculpa: Atrapalhou o trânsito.

A magistral música de Chico Buarque "Construção" me vem logo à mente. E não é à toa. Não importa o protesto, a morte, o problema é morrer na contra-mão atrapalhando o tráfego. É protestar e impedir o direito divino da classe média e da elite de sair do trabalho em seus carros e passar "só" 2h no trânsito, parados.

2h e meia é demais, um disparate! Para um bando de baderneiros protestar por coisas absurdas como Passe Livre, contra aumento de passagens, por dignidade, contra a Homofobia, por salário.... Que absurdo!

Pois bem, que jornalões com interesses claros - ainda que finjam imparcialidade (e nós fingimos acreditar) - continuem com esses absurdos de a cada protesto reclamar do trânsito não surpreende, o problema é quando um blog de respeito começa a repetir a mesma ladainha.

Criminalização do protesto

Pierre Lucena, no Acerto de Contas, faz uma enquete perguntando aos leitores se estes concordam com os protestos que param o trânsito, discordam ou concordam com exceções.

De início, a situação já impõe um complicador: Estamos falando de protestos pequenos, onde se via para a rua para ter visibilidade, ou de protestos com milhares de pessoas que, invariavelmente, precisariam ocupar as ruas para caber a todos?

Nem entrei ainda no mérito da legitimidade, apenas do tamanho. Se tomarmos o segundo caso como modelo, toda a idéia de "concordar" ou "discordar" se torna inviável.

Mas, entrando na legitimidade, pergunto: Porque seria o trânsito mais importante que reivindicações legítimas? Porque o suposto "direito" de pessoas se locomoverem está acima do direito de quem quer se locomover, mas não tem direito?

Em São Paulo a coisa é ainda mais engraçada. Difícil achar quem leve menos de 1h para chegar em casa, se chover o tempo pode chegar até 2, 3, 4h ou até mais, e está tudo bem, é a vida. Mas se perdem mais 10 minutos, mais meia hora porque alguém está protestando para que TODOS tenham o mesmo direito a se locomover aí não pode.

O início...

O artigo do Pierre no Acerto de contas foi uma resposta a outro, no mesmo blog, do Robson Fernando (que escreve no Arauto da Consciência), que criticava a posição do Diário de Pernambuco (grande jornal de Pernambuco junto com o Jornal do Commercio) de, como Folha, Globo, Estadão e cia, se preocuparem mais com o trânsito do que com o protesto em si, com as razões.

O Diário, aliás, foi ainda mais criminoso e tendencioso do que eu poderia imaginar, muito pior até que a Folha em seus "bons" momentos. Leiam o post do Robson e sintam nojo.

Comentários ponto a ponto
 
Mas, voltando ao caso, Pierre retira totalmente a legitimidade dos protestos ao sequer questionar a validade dos mesmos. É intolerável. Além disso, pra piorar, ainda faz um comentário sobre a "liberdade de imprensa" que só podemos apontar e rir.
Antes de tudo, é preciso deixar claro que o jornal tem o direito de se posicionar como quiser. Inclusive, acredito ser um avanço o jornal emitir opinião a respeito de um tema, sem ficar sob a máscara da imparcialidade.
Começar o texto com este comentário grotesco já praticamente invalida os argumentos seguintes, mas sejamos valentes. Acho engraçado alguém achar bom um jornal opinar, que ele tenha este "direito", levando em conta que é basicamente isso que eles fazem, ou melhor, o que só fazem. Mas, pergunte aos editores e donos e eles dirão que são imparciais. Esta é a liberdade de Empresa, que querem chamar de imprensa. A liberdade de dizer que é imparcial mas dizer o que bem lhe convém - sempre contra os movimentos sociais.

Seria lindo se os jornais não se limitassem a dar só sua opinião e não proibissem a todos os demais o mesmo "direito" garantido unicamente por seu poder econômico. Mas, quando convém, dizem que não é opinião, é imparcialidade pura! E nós acreditamos....
Mas voltando ao assunto, no ano passado tivemos vários protestos que pararam a cidade. Tivemos desde alguns mais conhecidos, como o protesto do MST, fechando a Agamenon, até o pitoresco #caosnopina, quando um grupo de moradores da Comunidade do Bode resolveram fechar a Herculano Bandeira para protestar pela prisão do traficante da região.
Outro ponto engraçado é querer comparar protestos legítimos com bandidagem. É a típica tática dos jornalões de péssima qualidade do país.

O MST para o trânsito para exigir reforma agrária, qualidade de vida, respeito, apuração de crimes cometidos contra os sem-terra... Mas deve ser tão legítimo quanto o "protesto" em defesa de um traficante - que, aliás, merece julgamento justo e apuração dos supostos crimes.
O que estes protestos têm em comum? O fechamento de vias públicas, causando transtorno à população que precisa se deslocar.
Pois é, só isto que tem em comum. Nenhuma discussão além. É isto que fazem os jornalões, a não ser quando o Cansei resolve sair às ruas, ou de repente a Liga das Senhoras Católicas resolve reeditar a Marcha da Família com Deus....
Esta semana tivemos o protesto do aumento das passagens, que promete continuar por mais alguns dias. Obviamente também fechou algumas vias de tráfego, causando grande transtorno a quem precisa se deslocar. E para aqueles que pensam que causam transtornos apenas aos que estão de carro, é preciso dizer que a maioria dos atingidos está dentro dos péssimos ônibus que circulam pela nossa cidade.

E, nossa, estudantes pararam o trânsito para protestar contra a passagem de ônibus que MUITOS não poderão pagar. Cada vez que se aumenta a passagem a exclusão também aumenta.

É extremamente mesquinho - para dizer o mínimo - se preocupar mais com sua locomoção do que com direitos básicos e fundamentais para boa parte da população - como o MST ter direito à terra ou os estudantes a ter condições de se locomover num transporte decente.

E essa noção de "não interessar à maioria" é relativo. Por mais que muitos não participem do protesto, uma manifestação contra o aumento de passagens beneficia à todo o conjunto da sociedade.

Sim, ninguém nega que o protesto cause transtorno, mas se limitar a isto para então deslegitimar um protesto é ridículo. É a típica tática da elite que quer e precisa manter a população excluída e a todo custo deslegitimar suas lutas para, então, se manter no poder e ser a única com acesso aos direitos que deveriam ser de todos.

E voltando novamente ao tema do post, a pergunta correta é: até que ponto os protestos são justos, quando causam transtorno à maioria da população, que não necessariamente tem interesse no protesto?
Dizer que o fato de causar por um lado transtorno não significa, por outro, que a reivindicação não atinja a toda a população. Estamos falando de protestos por direito ao transporte, um direito de todos, mas que é negado a cada vez mais pessoas graças aos sucessivos aumentos de passagem.

Conclusão

Em São Paulo estamos passando pela mesma situação, aliás, com uma passagem de 3 reais e um custo vergonhoso e assustador mensal para o trabalhador. E o protesto último foi recebido por balas da polícia de São Paulo.



A criminalização do protesto acaba nisso: Violência policial sem qualquer resposta. Legitima a violência contra a população, não importa quais sejam as razões. Será que é ilegítimo o protesto, mas não há problema na repressão?
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Em São Paulo repressão, estudantes rendidos (aqui, aqui e aqui) e obrigados a apagar fotos e vídeos da repressão policial e em João Pessoa também violência policial contra manifestantes pelo Passe Livre e contra os aumentos das passagens.

Vejam o que me enviou o pessoal do Movimento Passe Livre:
A manifestação marcada para a tarde de hoje contra o aumento da tarifa de ônibus, organizada pelo Movimento Passe Livre de São Paulo, começou com clima de descontração. Muitos estudantes e militantes de diversas entidades cantavam e tocavam com muita animação. Após sair pacificamente em passeata, os cerca de mil manifestantes percorreram diversas ruas do centro da cidade divulgando a luta para a população.
Ao chegar à praça da República, no entanto, os presentes viram um pequeno tumulto com policiais transformar-se em desculpa para o início de agressiva repressão, majoritariamente pela Força Tática. A violência atingiu rapidamente maiores proporções, apesar das tentativas dos manifestantes de se reunir e retomar a caminhada pacífica. Bombas de gás lacrimôgenio e de efeito-moral foram lançadas indiscriminadamente contra o protesto, assim como atiradas balas de borracha, que atingiram até mesmo repórteres e fotógrafos. Sprays de pimenta e cassetetes também foram usados para agredir diversas pessoas. Apesar de apenas uma pessoa ter sido detida durante o ato, outras 30 foram presas um bom tempo após a dispersão, enquanto caminhavam pelo centro em grupos menores e procuravam conhecidos. As 31 encontram-se encarceradas no 3º DP. Até agora foram contabilizados cinco feridos.
O Movimento Passe Livre de São Paulo marcou para o próximo sábado (15) um debate com tema “Por que lutar por um transporte público?” às 15h no espaço Ay Carmela! (R. Das Carmelitas, 140 – Sé). A próxima manifestação foi convocada para o dia 20 de janeiro (quinta-feira), com concentração às 17h na esquina da R. da Consolação com a Av. Paulista.

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É óbvio que, com a posição tendenciosa (independente? faz-me rir) da mídia a criminalização acaba se entranhando mesmo nas camadas que seriam beneficiadas pelo protesto, ou melhor, pelo resultado satisfatório do protesto.

Mas, claro, porque isto importaria à elite? Só seria um problema se a empregada não pudesse mais chegar na casa do patrão. Até lá, que a exclusão seja mantida e os protestos criminalizados.

Quando um blog passa a defender a mesma posição criminosa e elitista da grande mídia, começo a me preocupar. Temos um problema.

Colocar o direito divino de alguns chegarem rápido (sic) em casa acima do direito a que TODOS possam ter acesso ao transporte e, enfim, chegar em casa, é inaceitável.

Só pra completar, fotos do protesto em Recife.
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domingo, 14 de fevereiro de 2010

A dor de uma mãe em Recife

Acontece todos os dias. Violência extremada contra a população humilde. Sem rosto, sem importância. Desta vez a mídia notou, afinal, o menino era diferente. Estudava, tinha futuro. Mas quantos milhares não morrem todos os dias sem qualquer notícia, sem incomodar mais do que sua família.

Este caso para mim tem um diferencial, a Vila Santa Luzia fica ao lado da casa onde cresci, em Recife, e onde minha mãe ainda mora. Conheci muito bem a Vila, frequentei a praça em frente e algumas vezes fui até a igreja da paróquia da Torre para conversar com o padre, um senhor extremamente simpático e querido, ou simplesmente para olhar a igreja, muito simples mas muito bonita.

Históricos de violência, porém, não faltam na região. Casos de execuções por lá são comuns e depois das 6 da tarde todo cuidado é pouco para andar da Praça, ponto de ônibus principal da área, até em casa.

Impossível conter as lágrimas de revolta. Pela dor da mãe, por ter vivido na área e saber como é a realidade do lugar e por saber, ainda mais, que é fato corriqueiro, que é comum. E que poucos se dão ao trabalho de notar ou lamentar.
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Do PE Bodycount e Blog do Jamildo

Alcides não acontece todos os dias. É símbolo. Desses que não são inventados. Daqueles que orgulha, que faz todo mundo repensar a vida, as oportunidades, os acertos, os erros. Alcides é história boa, daquelas que enche um livro inteiro, que faz a gente querer contar todos os detalhes para o taxista, o porteiro, os colegas de trabalho, para todo o mundo. 

Morador da Vila Santa Luzia, na Torre, filho de uma ex-carroceira, tirou fino da miséria e passou no vestibular de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Passou bem. Foi primeiro lugar entre os alunos das escolas públicas. Não fazia outra coisa. Só estudava e frequentava o grupo jovem da Igreja da Torre. Deixou a mãe louca de felicidade. E a Vila Santa Luzia também. As mães de lá ganharam um rosto para mostrar aos filhos. "Tá vendo aquele ali. Passou no vestibular."


Aos 22 anos, Alcides ganharia o diploma em setembro. Iria fazer mestrado e depois doutorado. Mas ele morava no Recife. Foi o bastante para levar dois tiros na cabeça. Estava estudando à 1h da sexta-feira. Arrastado de casa por dois homens numa moto. Morreu na frente da mãe e das três irmãs. Queriam matar outro.







Encontrei com a mãe dele, dona Maria Luiza, hoje pela manhã. Ainda estava vestida de orgulho, com o jaleco branco do filho. Faltava bem pouquinho para ela dizer ao mundo que era mãe de um biomédico. Pouquinho para dizer que não era mais uma. Contou todo o sofrimento. Disse que ainda se agarrou com os assassinos. Mas não teve jeito. Conseguiu evitar apenas o terceiro tiro. Os dois primeiros já haviam interrompido o seu maior sonho. Maria Luiza voltou a ser mais uma. Hoje é 8 de fevereiro e 386 mães choraram, apenas neste ano, a morte de um filho.
A foto é de Alexandre Gondim/JCimagem  

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