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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A vitória de Dilma e as lições do Rio de Janeiro

Sabido o resultado das eleições presidenciais, vitória de Dilma, é o momento das análises.

Dilma foi eleita com pouco menos de 52% dos votos (mais de 54 milhões de votos frente a pouco mais de 51 milhões de Aécio) uma diferença de mais ou menos 3 milhões de votos frente a Aécio. Os votos nulos e brancos passaram dos 7 milhões, enquanto a abstenção foi alta, chegando perto dos 30 milhões, totalizando cerca de 37 milhões de pessoas que não queriam nem um e nem outro.

Dilma foi eleita, mas em um país dividido. O PT perdeu porcentagem significativa de eleitores, sobreviveu mais do que qualquer coisa. É uma vitória, não podemos negar, mas não veio fácil.

Quase metade da população votou em seu adversário, e outros milhões não quiseram sequer votar nos dois candidatos que disputavam o segundo turno. Dilma foi eleita, mas nem de longe pela maioria da população. É preciso, então, responsabilidade e reavaliações.

Mudanças
 
Dilma ensaiou uma revolta contra a Veja/Abril, irá levar adiante não apenas um processo contra a revista e a editora, mas também imporá a discussão real de uma reforma da mídia? Irá rever a forma pela qual o governo injeta rios de dinheiro na grande mídia e, claro, o PT irá rever a verba que paga (admita ou não) à mídia amiga que no fim é apenas a Veja de sinal trocado?

Dilma irá manter sua política francamente criminosa nas comunicações, privilegiando sempre as teles e prejudicando o compartilhamento de conhecimento? O mesmo vale, por exemplo, para a Cultura, assim como precisamos de mudanças profundas na capacidade e vontade do governo dialogar com populações indígenas, nos direitos LGBTs (e nos recuos e submissão frente ao atraso fundamentalista), das mulheres e no trato à questões relacionadas ao meio ambiente e grandes obras de infraestrutura.

Com Dilma foram 4 anos de inexistência de diálogo e de imposição de pautas. Imposição de obras, de eventos, mesmo a tal constituinte por uma reforma política foi uma imposição sem que as ruas tivessem sido consultadas, uma imposição do PT em conjunto com seus movimentos cooptados, como a UNE.

Teremos ainda um ministro como o Cardozo oferecendo tropas federais para brutalizar ativistas, manifestantes e até grevistas, como no caso da greve do metrô este ano?

Irão continuar os gritos fanáticos e dementes de figuras como #Stanley, Eduardo Guimarães, PHA e outros, tidos como arautos por quem se dedica diariamente a espalhar ódio e desinformação ou o PT irá buscar construir uma relação de verdade com a esquerda baseada em respeito e colaboração?

O sentimento de mudança está mais claro do que nunca. Ainda que este sentimento seja difuso. Encontra-se à direita e à esquerda, e mesmo dentre o eleitorado que voltou criticamente em Dilma. É preciso contar que destes votos de Dilma uma parcela quiçá significativa foi de votos críticos. Se assumirmos que a maior parte dos votos de Luciana migraram para Dilma, ao menos 1,5 milhão de votos foram absolutamente críticas, contra o "mal maior". E eram votos que exigiam e exigem mudanças.

Como comentou o professor Pablo Ortellado:
Espero honestamente que o PT entenda que essa vitória só foi conseguida com uma união e engajamento sem precedentes da esquerda para evitar a volta do neoliberalismo. Espero também que esse reconhecimento se reverta numa ação mais progressista, sobretudo na cultura, na comunicação e no meio ambiente.
Superar o ódio e ir para a esquerda?
 
Este é o ponto. Durante as eleições era comum ver militantes petistas, especialmente nas redes, exigindo que a esquerda votasse em Dilma sem exigir nada. Era "obrigação" nossa votar no PT contra o "mal maior" e qualquer recusa era suficiente para xingamentos de fascista, coxinha e etc.

Se é verdade que o PT precisa entender que não apenas venceu por pouco, mas que a esquerda crítica foi crucial para a vitória, por outra o partido terá o trabalho de domar a militância raivosa e suja que criou e manteve nos últimos 12 anos.

E precisa, obviamente, guinar à esquerda.

A esquerda (ou setores dela) não apenas a apoiou criticamente, mas muitos fizeram campanha, empenharam sua credibilidade por Dilma, indo além de repudiar Aécio, mas efetivamente endossando a candidatura do PT. Isto, aliás, poderá inclusive criar rusgas dentro da própria esquerda, mas este é outro assunto.

Pessoalmente não acredito que isso acontecerá. Se a governabilidade foi usada indiscriminadamente por 12 anos para garantir, legitimar e justificar todo retrocesso petista (inclusive projetos nascidos do PT, ou seja, sequer projetos impostos por aliados incômodos que o partido tinha de lidar), o que esperar agora que o congresso eleito é ainda mais conservador? E é preciso também lembrar que é mais conservador também por obra do PT que se engajou em campanhas de fascistas como Collor, Katia Abreu, dentre outros.

E a contar pelo discurso da Dilma após a vitória, não veremos qualquer mudança substancial do primeiro para o segundo governo. Discurso de conciliação, de diálogo (que nunca existiu com as ruas e com as minorias, e ela afirma que fará com "as forças produtivas"), de "paz". Nenhuma ponta de autocrítica, mas a manutenção do caminho já traçado.

Dilma se manteve aferrada à piada da Reforma Política como solução pros problemas (seria uma solução, mas não dentro dos moldes propostos, muito menos após uma vitória apertada), pregando o diálogo com setores específicos, citando mulheres, negros e jovens, "esquecendo" de citar Indígenas e LGBTs, em um palanque onde o que faltava era gente de esquerda.

Pelo discurso podemos imaginar que a guinada à direita se aprofundará, pese o apoio crucial da esquerda à sua vitória.

Os próximos 4 anos

O PT não apenas terá de lidar com um congresso mais conservador, como é também responsável pela eleição de muitos desses conservadores. Tendo isto em mente, fica difícil imaginar um governo mais à esquerda. Espero estar errado, mas acho muito difícil que esteja.

Os próximos 4 anos serão difíceis. Dilma foi, como comentei, eleita por margem estreita, não chegou a 4 milhões de votos sua vantagem. No geral, a maior parte do país não votou em Dilma, logo, o governo terá de trabalhar muito para garantir sua legitimidade, precisará realizar mudanças profundas e, acima de tudo, realizar uma autocrítica que está atrasada pelo menos uma década.

A continuidade das baixarias patrocinadas pelos MAVs, pelos "militantes" virtuais, pela mídia "amiga" acrítica e suja poderá dificultar a vida de Dilma, ampliando o ódio que já vimos se espalhar pelas ruas que virá junto com gritos contra a frágil legitimidade eleitoral conseguida pelo PT.

Como comentou o Maurício Caleiro no Twitter, é importante ter em mente 
Essa eleição coloca uma grande questão ao Brasil: como fazer com q as disputas se deem em torno de programas e não de ataques baixos.

Serão 4 anos duros, independentemente do caminho que o PT escolher trilhar, mais do que nunca precisamos de uma esquerda forte e atuante, que se reinvente.

O exemplo do Rio para a esquerda

A votação do Tarcísio no Rio, assim como de Freixo, Jean, dentre outros, demonstra que há espaço para o crescimento da esquerda e daí precisamos tirar forças e lições.

Aliás, a eleição no Rio é emblemática. Os votos Nulo/Branco/Abstenção, somados, VENCERAM Pezão que foi eleito em absoluta minoria. Ele recebeu 4.343.298 votos enquanto o chamado "não-voto" recebeu 4.348.950, ou seja, perdeu por 5.652 votos. É uma situação bastante interessante e mostra que Junho teve um papel relevante nas eleições do Rio. E é bom lembrar que muitos votaram em Pezão apenas para evitar a vitória de Crivella e da IURD.

Pezão tem legitimidade bastante limitada e o Rio pode voltar a ver manifestações no ano que vem.

Cabe à esquerda ter a capacidade de superar diferenças pontuais e se unir, cerrando fileiras e as ampliando, buscando criar um polo alternativo à PT e PSDB (e eventualmente à Marina, que não é uma opção e saiu bastante queimada dessas eleições) para que em 2018 não se veja novamente numa encruzilhada e apoiando novamente a continuidade do PT, jogando no lixo projetos e militância.

Jean terá a responsabilidade de cobrar as promessas feitas a ele por Dilma, assim como outras figuras do partido terão de pressionar fortemente por pautas progressistas. Mas todos tem que tomar cuidado para não cair no canto do PT e não afrouxarem na construção de uma alternativa e de se fazer presente nas ruas e no parlamento como uma voz alternativa, de esquerda.

Dois tuítes de Luciana Genro, no fim, me dão esperança:
Venceu o PT contra o retrocesso. Menos mal. Mas é a esquerda que abandonou suas bandeiras que abriu espaço para o PSDB crescer tanto. Por isso não abrimos mão de ser oposição e construir uma esquerda coerente.Nossas lutas não são decididas nas urnas mas sim nas ruas!A elas!
Vamos à luta!

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quarta-feira, 18 de junho de 2014

"Mal maior": O petismo saindo do armário (de novo e outra vez)

Vem chegando o período eleitoral e, com ele, petistas enrustidos começam a sair do armário.

Aquele seu amigo que passou os últimos (quase) quatro anos denunciando a violência contra os povos indígenas, denunciando a insistência do governo em não apenas não demarcar terras, como virar refém por opção de ruralistas para lidar com a questão, de repente começa a fazer campanha para.... o PT!

Aquele seu outro amigo, que você tem o maior respeito e que já deixou claro detestar Dilma e, como é do Rio, detestar também o PMDB, já começou na campanha de Lindbergh, como se ele (e o PT) não fossem aliados até ontem do PMDB "higienista, canalha, ladrão, etc".

Vários amigos simplesmente saindo do armário e se declarando eleitores de Dilma e de outros petistas pese terem passado anos os atacando. De repente estão todos limpos. Lavou, tá novo.

Cheguei a questionar alguns deles, perguntando o que achavam de Aécio, Marina, Eduardo Campos e... Que surpresa!

Concordo obviamente com todas as críticas feitas a Aécio, um desqualificado, censurador e... tucano. Dispensa comentários, não se vota em tucano.

Mas quanta surpresa quando ouço que Marina é uma canalha, uma "traíra"... E, pior, que Dudu Campos também o é, logo ele que até nem bem 6 meses era um querido aliado do PT! Os humores dos petistas e petistas enrustidos muda como o vento. Hoje você é aliado, amanhã é inimigo e, especialmente, o contrário.

Alguns não são tão abertos em sua defesa do petismo redescoberto, então investem na tese antiga do "mal maior".

O PSDB é o mal maior. Tudo é o mal maior. Logo, vamos todos votar no PT.

Concordei com essa tese na última eleição e acabei, no segundo turno, votando em Dilma. Se arrependimento matasse!

Não se vota no menos pior, busca-se construir alternativas. Voto deve ou deveria ser algo consciente, feito com a intenção de melhorar o país e não na base do medo, na base do "não tem tu, vai tu mesmo".

Se não há uma opção viável, temos de nos preparar para a luta contra quem quer que vença e não FAZER CAMPANHA para alguém ruim apenas pelo medo de outros. Claro, podemos entender o papo do "mal maior" se estivéssemos, por exemplo, frente ao perigo de uma Frente Nacional ou algum partido abertamente fascista ou neonazista vencer. Não é o caso. Oras, Bolsonaro, um legítimo fascista é inclusive da base do PT! Há fascistas para todos os gostos e em todos os lados.

Estamos, na verdade, diante de três candidatos principais que em praticamente nada se diferenciam. Dudu Campos governou com o PT por anos a fio, é praticamente igual. Aécio é terrível, mas Dilma é diferente?

Genocídio indígena, aliança carnal com ruralistas, com evangélicos fundamentalistas (Dilma chegou a revogar decreto regulando o aborto apenas por exigência dos fundamentalistas aliados, sem falar nos programas do Ministério da Saúde que Padilha cancelou pela mesma razão - e Padilha é candidato!), cooptação de movimentos sociais, brutalidade nas ruas e, é sempre bom lembrar, com uma militância (sic) fanatizada nas redes.

Na prática, o PT e o PSDB são idênticos. Assim como o PSB. A tese do "mal maior" não se aplica.

Se por um lado o PSDB é mais feroz nas privatizações (ainda que o PT também privatize), por outro o PT é voraz na cooptação e criminalização de lutas sociais. Dilma assentou MENOS que FHC. Demarcou MENOS que FHC. E FHC é um canalha que dispensa comentários, quem viveu durante seu governo sabe bem o que digo.

Se por um lado o PSDB é visto de forma mais simpática pela mídia comercial (apesar de ser hoje o PT quem a financia), o PT tem sua mídia pessoal, tem seus "progressistas" e sua "militância" virtual absolutamente fanatizada.

Já o PSB oscila entre os dois campos. Segue, não é líder.

Agora, é fato que cada pessoa tem formas diferentes de pensar e ver o mundo, até compreendo quem chegue na urna e, num momento de desespero, faça sua escolha e vote em Dilma. Mas fazer campanha? Tentar convencer outros de que um dos governos mais lamentáveis dos últimos tempos é bom?

É muita falta de noção e de coerência.

Cadafalso, pelotão de fuzilamento ou guilhotina. Faz diferença?  É uma falsa opção, vamos morrer de maneira horrível de qualquer forma. Nos cabe denunciar a situação e buscar construir alternativas e não ficar eternamente sustentando uma delas porque enquanto existir essa sustentação esse partido e esse candidato não irá ver razão para repensar como faz as coisas. O PT SABE que muita gente acaba votando nele, não importa o que façam, pela tese do "mal maior". 

Então porque fariam qualquer tipo de autocrítica se na hora que importa conseguem os votos?
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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Movimento Passe Livre: A juventude acordou, e o PT não é mais referência

Quando Lula foi eleito, eu tinha 17 anos.

Eu sabia quem eram os tucanos e, mesmo militando no PSTU na época, fiz campanha e votei no Lula.

Eu já tinha sido militante do PT, como quase todos os meus amigos de colégio, no movimento estudantil, mas acabei aderindo ao PSTU, partido no qual militei até pelo menos 2007 e, desde então, tenho me mantido apartidário apesar de, nunca escondi, ter simpatia pelo PSOL (o que não me impediu de fazer campanha para candidatos do PT ao legislativo ou de ter, me arrependo amargamente, votado na Dilma na eleição passada).

Digo isto, pois devido à minha militância, que vem de família, eu sabia quem era FHC e o que era o PSDB. Venho de uma família de sindicalistas do Banco do Brasil e Caixa e, até então, nenhum governo havia sido mais nocivo a esta categoria - e outras - quanto FHC.

Ou seja, eu vivi os anos FHC e, mesmo ainda na adolescência, vi seus efeitos em primeira mão. O discurso do "mal maior" ou do "era pior com os tucanos" fazia - felizmente não mais - efeito sobre mim.

E fez efeito sobre muita gente por muito tempo.

"Todo dia milhões de trabalhadores,
quando ligam a sua televisão,
a Globo mostra apenas coisas boas e esconde toda a podridão.
O ministro que parecia santinho,
já mostrou que faz parte da armação.
Primeiro foi Collor,
agora é Henrique,
e continua a exploração.
Já congelou, o salário que eu sei.
E me enganou, que eu vi no replay.
A Globo é quem manda no FHC,
não deixe ele enganar você"
Musiquinha que o pessoal do PT cantava quando eu era criança, contra FHC. Nunca esqueci.

O doloroso é que ainda faça algum efeito, mesmo depois de 10 anos de um governo com mais semelhanças que diferenças ao anterior, e com elementos-chave muito piores. Uma das únicas diferenças entre PT e PSDB que, no entanto, vem diminuindo, é o fato do PT bater, mas alisar antes, ou bater mais leve, sabendo que bater por mais tempo tem um efeito melhor do que dar logo uma porrada. Em outras palavras, o PSDB chega de sola, o PT finge ser seu amigo.

Não vou negar os avanços que conquistamos com o PT, como as cotas, o ProUni, o Bolsa Família e etc, mas critico o viés de tais projetos, que foram feitos com o único intuito de criar mercado consumidor e salvar a pele de investidores e empresários. Sem educação universalizada, não importa quantas cotas queiram impor, as mudanças serão cosméticas. Não importa colocar milhões de jovens na faculdade, se ela for no nível Uniban. Não importa que as pessoas possam comprar microondas, se o usam em uma casa sem saneamento básico e muito menos importa que possam comprar carros do ano e se endividar porque os juros estão (supostamente) baixos, já que ficarão presas no trânsito e ao banco.

Sim, há uma melhora na autoestima, isso é ótimo. Sim, há de fato melhora pontual na qualidade de vida, mas, infelizmente, é pontual, especialmente se considerarmos a ridícula barreira inferior aos 300 reais para se chegar à sonhada Classe Média (a mesma que Chauí e outros petistas atacam com violência).

Mas, chegando no ponto central deste artigo, preciso dizer que a juventude de hoje não conheceu FHC.

A juventude de hoje tinha 5-6 anos quando Lula foi eleito, viveram toda sua infância e adolescência sob o Lulismo. Hoje os jovens que chegam à universidade nasceram em 1994, 1995, são indiferentes ao tucanato no poder federal. A desculpa de um "mal maior" tem efeito muito mais restrito nesses jovens que não engolem, por sua vez, o papo do "pleno emprego", que são jogados como gado em universidades de péssima qualidade ou que veem seus professores entrar em greve e serem criminalizados.

A "esquerda" que o PT diz representar não encontra contraponto no PSDB que, para os jovens, é apenas imaginário.

Sim, em São Paulo todos sabem quem é Alckmin, Serra e o PSDB no poder, mas também sabem o que é o PMDB no poder (caso do Rio) e veem no PT de hoje um partido com o qual não se identificam, enfim, veem hoje o PT no poder e não pensam em termos de "é diferente do PSDB", mas sim que não é aquilo que buscam, que querem ou sonham.

Os jovens não lembram do governo Erundina, a vitrine que o PT hoje só usa para justificar seus absurdos, mas se recusa a resgatar seus bons projetos, como a Tarifa Zero.

Existe muito referencial teórico e pouca coisa palpável para que a juventude, como fazem os militantes fanáticos petistas, vejam no PT a alternativa que o partido prega ser.

Os jovens cresceram com o PT no poder federal e o PSDB no poder estadual e, ouço isso de muitos, não vêem diferenças significativas entre os dois.

E daí vem parte da explicação para o crescimento de um movimento que já existia, que esteve nas ruas em 2011 e antes, que é o MPL - apesar de tentativas torpes de petistas fanáticos de pregar um revisionismo histórico burro e irresponsável e fingir que 2011 nunca existiu.

O movimento em torno da redução das tarifas e do Passe Livre vai muito além destas reivindicações. A repressão da PM do PSDB e a conivência da prefeitura do PT fez apenas eclodir a revolta popular entre os jovens e contagiou os mais velhos. Jovens que não se importam se estão protestando contra o PT ou o PSDB, pois não enxergam em nenhum deles uma alternativa.

E não se enganem, nem todos participando dos protestos do MPL são de esquerda, há gente do PSDB revoltada com o Alckmin. Há gente apartidária e liberal nos protestos e muita gente apartidária de esquerda e, claro, há os partidários.

O Márvio fez um comentário impecável em seu blog:
Falar que as manifestações que perturbam a ordem em São Paulo, Rio e outras cidades são causadas apenas por uma diferença de R$ 0,20 é uma bobagem. É ater-se apenas a um dos sintomas de um perigo muito maior e corrosivo, que é a perda do controle da inflação.

Talvez estejamos assistindo ao primeiro grande protesto popular contra a desvalorização da moeda, o aumento trotante de preços e inconscientemente contrário à política econômica do governo Dilma. E é nisto que talvez tais protestos o representem, leitor, ligue você para os 20 centavos a mais na passagem ou não.

Economistas explicam assim o atual processo inflacionário: a melhor partilha da renda trouxe mais pessoas ao consumo – o que é ótimo –, mas não incentivou de maneira sólida a produção industrial, as exportações, a competitividade. A produção freou; o consumo não. Preços sobem, perde-se a noção do valor do dinheiro. Gasta-se mais, cobra-se mais ainda.
Não penso que a inflação seja razão única ou principal, mas vem junto, mas agrega. Estamos diante de um movimento que inicialmente pregava redução das tarifas e uma discussão mais ampla sobre a cidade, seu uso e os direitos da população, para uma discussão ampla da sociedade e de outros aspectos.

Nos grupos que convocam manifestações há debates sobre a ampliação de pautas, a inclusão da discussão sobre a PEC37, sobre cotas, sobre consumismo, sobre questão indígena, educação....

É um movimento que se expande e que não encontra amarras e cujos partidos tradicionais e especialmente os partidos no poder tem pouca ou nenhuma ingerência. É autônomo, horizontal e nasce (e cresce) de forma absolutamente espontânea.

O PT não irá conseguir contê-lo apelando para sua história, que para a maioria dos jovens é irrelevante e distante.

O importante para nós é não apenas fortalecer o movimento, mas conseguir somar pautas e ampliar as reivindicações e, talvez, até conseguir criar uma mobilização permanente que transcenda os tópicos iniciais de reivindicação.

É interessante, e penso que o movimento já conseguiu uma vitória importante: Mobilizou não apenas a juventude, mas uma parcela imensa de pessoas que nunca protestaram, ou que sempre acompanharam de longe. Recebi convites e comentários - e conheço dezenas de pessoas que tiveram a mesma grata surpresa - de pessoas insuspeitas, que nunca foram às ruas, que nunca sequer simpatizaram com mobilizações como as do MPL, mas que, devido à brutalidade policial e também às pautas, passou a aderir e mesmo querer participar.

A juventude acordou, e com ela muitos estão indo atrás. E o PT não é mais a referência deste jovens, pelo contrário, virou, junto com o PSDB, um inimigo a ser combatido.
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quinta-feira, 14 de março de 2013

O novo papa e a falida reconquista da América Latina

A Igreja, ao decidir por um papa latinoamericano o faz baseado não em suposta santidade papal, mas de forma política, calculada. O Brasil é o país com mais catolicos no mundo - onde vem perdendo espaço para o neopentecostalismo - e a América Latina representa hoje 39% dos fiéis do mundo, ou seja, são a região com o maior número de católicos do mundo.

Decisão pensada, calculada. Mas vem muito tarde e vem ideologicamente comprometida, sequestrada até.

O novo papa, Francisco (Jorge Mario Bergoglio), argentino, envolvido com a ditadura local, com tortura e assassinato de militantes, inclusive de padres, com sequestro de bebês, foi, junto com Ratzinger, um dos responsáveis pela eliminação da Teologia da Libertação, ramo este responsável por aproximar a igreja dos pobres e necessitados, exatamente a camada social que é alvo preferencial (e é mais vulnerável) às investidas dos Marginais da Fé.

Em outras palavras, foi o trabalho insistente e tenaz de Ratzinger e Bergoglio que ajudaram a igreja a entrar em crise de fiéis, a perder, especialmente na América Latina, uma quantidade imensa de fiéis para seitas neopentecostais.


A igreja eliminou o ramo que conseguia chegar aos pobres, sobrou apenas os "evangelizadores" envoltos em riqueza e ouro, que conversam melhor com ditadores genocidas como Videla do que com o povo humilde nas favelas.

Talvez o único crime que não envolva o novo papa seja a pedofilia, pois ele não cosnta em nenhuma lista com nomes de "apoiadores", ainda que não seja também considerado um opositor, que discurse contra a prática tão comum na igreja.
Bergoglio e o ditador genocida Videla
Vale lembrar que Bergoglio é, como Ratzinger, um conservador que se opõe aos direitos LGBTs, casamento igualitário, aborto, contracepção, enfim, um típico fascista-moralista católico.

O problema é que este discurso conservador não consegue, na sua forma católica, penetrar mais nas camadas populares, que foram tomadas de assalto pelo discurso igualmente fascista-moralista neopentecostal, com o acréscimo de um estelionato ímpar e com promessas mil de arrebatamento, de mundos e fundos e de dinheiro rápido.

Aos pobres o discurso do dinheiro prometido por estelionatários da fé parece mais atraente que os pedidos de humildade e pobreza (ainda que não seguidos pela ostentosa cúria) para se chegar aos céus.

Pelo visto as "ovelhas" estão mais interessadas em viver bem e ter a promessa dos céus "apenas" odiando minorias que se privando para apenas depois da morte ter algum retorno.

Ou seja, um novo papa foi eleito pensando politicamente numa (tentativa de) reconquista da América Latina tomada por krents, mas que, ideologicamente, representa a mesma coisa que os recém-chegados, com o imenso problema de não trazer nada de novo, nenhuma nova "salvação" e de ter um discurso tão atraente quanto o de uma porta.
É óbvio que eleger um papa argentino - que, porém, ficará em Roma - talvez ajude momentaneamente a imagem da igreja junto aos latinoamericanos, talvez, por um tempo, consiga segurar um pouco a sangria de fieís, mas será por pouco tmepo e, enfim, será cosmético.

A alegria por um papa latino (que não vejo tão grande no Brasil, que mantém uma eterna richa com os argentisno, ainda que esta seja mais forte aqui do que lá) não parece ser maior que a "alegria" das conquistas terrenas e fáceis ao alcance de um cartão de crédito ou de um talão de cheques entregues ao pastor.

A igreja não apenas despertou tarde demais para o crescimento assustador do neopentecostalismo, mas também matou a única oposição viável no combate contra o medievalismo que, no fim, a igreja continua também ou ainda representando.
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No Facebook, a ativista Karla Joyce fez um alerta que, no entando, não muda o caráter (ou falta dele) do novo Papa:
"Pessoal, só um alerta: se não houver as fontes fidedignas do que denunciam, a mesma se esvai.

Não sou defensora do Papa, não duvido de seu conservadorismo, mas ontem pipocaram supostas imagens dele com o ditador argentino Videla. As fotos são verídicas, mas do Cardeal argentino Pio Laghi.

Agora estão publicando uma suposta declaração misógina (algo do tipo "mulheres não tem aptidão para política") que ele tenha feito em 2007, mas a fonte mais antiga que eu achei no Google foi de 20h horas atrás. Consideremos que em 2007 a internet já era "desenvolvida", alguém aí tem alguma fonte mais antiga para confirmar a tal declaração?

Não adianta ter essa onda de denúncias sem ter as provas de fato."
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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Primeiras nomeações/propostas de Haddad na prefeitura de São Paulo: Pontos positivos e negativos

Haddad acabou de assumir, mas já podemos, pelas suas primeiras ações e atos políticos, além de suas nomeações, tirar quais seriam os pontos positivos e negativos iniciais.

Pontos Positivos

Criação da Secretaria de Igualdade Racial. Iniciativa progressista, porém neutralizada com a nomeação de Netinho de Paula.

Criação da Controladoria Geral do Município. Ela já existia desde Marta, mas agora ganhou status de secretaria (obrigado ao @danieldocei pela dica). Uma excelente inciativa para trabalhar em conjunto com o TCU, isto se o órgão for realmente independente, e outro acerto na nomeação de Mário Vinícius Claussen Spinelli para o cargo.

Fim da militarização das subprefeituras e colocação de funcionários de carreira no lugar de coronéis da PM. A melhor iniciativa de Haddad quando assumiu o cargo de prefeito.

Foco em combater a miséria na cidade. Retoma ou apenas continua com os projetos federais nesta áera. Esperamos que traga novidades e sua aplicação seja efetiva.

Tentativa de rever dívida da cidade junto ao governo federal. Importante passo para sanar as dívudas reais ou supostas da prefeitura e ter como investir em áreas estratégicas.

Cultura com Juca Ferreira e Rodrigo Savazoni. Outra grande iniciativa buscando retomar o excelente trabalho que Juca e Gil realizaram no MinC e com a ajuda do Savazoni, que entende como ninguém da área. É a secretaria de onde podem sair os melhores projetos.

Fim da taxa de inspeção veicular. Algo esperado e necessário. Motivo de confusão revolta e, claro, corrupção, durante o governo (sic) Kassab. Nota: O fim da taxa é bom não pro ela em si, mas por ter acabado com um verdadeiro ralo de corrupção. É preciso repensar o modelo.

08/01/13 Nomeação de Leda Paulani para secretaria de Palnejamento (dica do @paduafernandes).

08/01/13 Criação da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (via @Mairakubik)

09/01/13 Obrigação (ordem do dia 3 de janeiro) do uso de uniforme por guardas da GCM que não pdoem mais atacar a população a paisana.

Pontos Negativos

Netinho de Paula na Secretaria da Igualdade Racial. Netinho de Paula é um espancador de mulheres que pouco contribuiu em sua história para a causa negra além de servir de garoto propaganda.

Discurso pela manutenção das OS. Privatização branca da saúde com aval e entusiasmo do PT que quando é oposição critica, mas no poder apoia.

Provável aumento das passagens e nenhuma discussão sobre o Passe Livre. As passagens irão aumentar, basta saber para quanto irão. Hoje milhões de paulistanos não tem condições de usar o transporte "público", a situação irá apenas se agravar. Como paliativo e propaganda enganosa pode vir o Bilhete Único Mensal, que dará desconto pífio e não melhorará a situação geral.

Programa pífio contra enchentes que não faz mais do que demonstrar boa vontad. A carta divulgada por Haddad com as primeiras iniciativas não difere das "boas" intenções do PSD e do PSDB nas gestões anteriores. Não traz nada de novo ou prático, como investimento pesado nas áreas mais críticas ou soluções emergenciais para áreas onde sempre enchem, como na região próxima a USP Leste.

Aliança com Maluf, PP, PSD e corja semelhante. Não precisa nem de comentários. Uma coisa é precisar de maioria para governar - o que não é sempre verdade, já que se pode buscar apoio e pressão popular sempre que necessário através de conselhos locais e etc, como o próprio PT acreditava e defendia - outra é entregar cargos-chave, garantir rios de dinheiro e se lambuzar no chiqueiro de gente como Maluf, Kassab e cia.

Aliás, o PT passou TODA sua história atacando Maluf para aparecer em foto carinhosa com ela e a campanha de Haddad foi em grande parte pautada pelas denúncias de higienismo contra Kassab, para agora estar aliado com o bandido.

Manutenção do projeto criminoso da Nova Luz, apenas com a promessa - vazia? - de "maior diálogo", passando por cima do caráter higienista que permeia a proposta como um todo. Não se pode aceitar absolutamente nada do projeto que foi feito sem nenhuma discussão com a população interessada e apenas voltada aos interesses das empreiteiras e da especulação imobiliária - estas que deram rios de dinheiro ao próprio Haddad.

Kassab permanece com poder sobre o governo e secretários. Homens (e mulheres) de Kassab permanecem no governo, como na SPTuris. O turismo virará feudo de Kassab e aliados. A aproximação entre PSD e PT, visando apoio do PSD nacional a Dilma, passa por cima dos interesses de São Paulo, que são os de ENTERRAR Kassab e seu partido criminoso e higienista. Mas, infelizmente, não acontecerá. Kassab ainda conseguiu emplacar o secretári-adjunto da Secretaria do Trabalho e o novo secretário-adjunto de Esportes. O pior prefeito que São Paulo já teve, como pintava a campanha de Haddad - e com razão - não é ruim na hora de manter seus tentáculos na administração...

Secretaria de Habitação e empresas subordinadas nas mãos do PP/Maluf. Dispensa comentários. Chave do cofre para os maiores bandidos do país que já são donos do Ministério das Cidades. Movimentos sociais se mobilizaram e foram traídos por Haddad antes mesmo da posse quando ele preferiu cumprir promessas feitas ao PP que as feitas ao povo e aos movimentos próximos ao PT.

Um dos maiores problemas de São Paulo é a falta de moradias, a demora na entrega de apartamentos populares e o crescimento exponencial da população em situação de rua que é, por sua vez, fortemente  criminalizada e entregar a Habitação ao PP beira o ato criminoso. Os movimentos populares por moradia não ficaram satisfeitos e não tem nada a comemorar com a vitória de Haddad.

Mudança no prazo para inspeção veicular. Com as mudanças propostas por Haddad, por mais que acerte com o fim da taxa, erra na permissividade dos prazos para a inspeção, facilitando a vida de poluidores e prejudicando o meio-ambiente.

Histórico do PT nacional de criminalização das greves do funcionalismo público. Apenas uma suposição, mas depois de Dilma é impossível acreditar que Haddad tratará os funcionários públicos que vem recebendo aumentos (sic) de menos de 1% com Kassab sejam tratados corretamente. E a posse já mostrou que a questão será problemática.

Nenhuma palavra sobre aumento de salários para professores municipais. Pode ser cedo, mas é questão crucial. Nenhuma palavra até o momento. O PT enche a boca para falar em educação e em valorizar professores e etc, mas na prática faz o contrário.

Julian Rodrigues indicado para a CADS, Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual da prefeitura. Uam figura nefasta, sem trânsito com diversos setores, que coloca interesses partidários na frente de agressões homofóbicas, do PLC122 e etc não tem a capacidade para assumir qualquer cargo na administração paulista.

Garantiu, com suas nomeações para secretarias e com alianças espúrias do PT, que assumissem cargos de vereador gente da laia de Wadih Mutran, Coronel Camilo e.... Marquito (não totalmente sua culpa no caso do Coronel Camilo, mas culpa das alianças esdrúxulas do PT com a direita)!
- Vereador Coronel Camilo (PSD) assumiu em vaga deixada pelo vereador Antonio Carlos Rodrigues, que foi para o Senado.

- Vereador Wadih Mutran (PP) ocupou vaga do vereador Donato (PT), que assumiu Secretaria de Governo na Prefeitura de São Paulo.

- Vereador Alessandro Guedes (PT) ocupou vaga de Eliseu Gabriel (PSB), que foi para a Secretaria Municipal do Trabalho e do Empreendedorismo.

- Vereador Marquito (PTB) ocupou vaga de Celso Jatene (PTB), que foi para a Secretaria Municipal dos Esportes.

- Vereador Abou Anni (PV) ocupou o lugar de Ricardo Teixeira (PV), que foi para a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente.

- Vereador Orlando Silva (PCdoB) ocupou a vaga de Netinho de Paula (PCdoB), que foi para a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.
 Enfim, sugestões, comentários, reclamações e etc são bem vindas.

Deixo calro fazer oposição de esquerda ao PT federal e ao Haddad, mas não posso fingir não ver avanços em discursos, nomeações e propostas, mas tenho a obrigação de criticar aquilo que vejo como absurdo e abusivo. Apenas criticar ou apenas elogiar é coisa pra fanático governista.



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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Estado da Palestina: Comemoremos por hora, mas o trabalho apenas começou

O que se pode esperar agora do processo de paz entre Israel e Palestina após esta ter sido finalmente reconhecida como Estado não-membro (observador) da ONU, um status semelhante ao do Vaticano?
Politicamente a vitória da Palestina é incontestável, com uma maioria absoluta dos votos (138 favoráveis, 9 contrários e 41 abstenções) que ajudam a apagar (ou ao menos diminuir a lembrança) a recusa do Conselho de Segurança, em 2011, de aprovar a entrada da Palestina na ONU.

Aumenta a pressão internacional e, sem dúvida, ajuda a reclamação palestina sobre os territórios ocupados.

Se, através de inúmeras resoluções, a ONU já reconheceu o direito dos palestinos aos territórios que lhe forma usurpados ou estão sendo (como Jerusalém Orienta, por exemplo), agora a coisa muda de figura. A ONU não reconhece posse ou soberania sobre territórios conquistados por guerra, invasão ou ocupação, mas o status indefinido da Palestina dificultava a aplicação desta norma. Agora, não há mais desculpas e a ilegalidade das ocupações é ainda mais flagrante.

Torna-se mais difícil para Israel sustentar a ocupação anterior e futuras anexações do território de um Estado, e não apenas de uma entidade política indefinida. Agora Israel não ultrapassa barreiras criadas por si, mas ultrapassa e desrespeita fronteiras definidas pela ONU e por um Estado soberano.

A Palestina pode, ainda, recorrer ao Tribunal Penal Internacional e outros fóruns internacionais e buscar uma condenação de Israel contra seus inúmeros e repetidos crimes de guerra, ainda que seus efeitos possam ser meramente cosméticos, em uma guerra de propagandas isto conta bastante.

Outra vitória palestina foi a de impor, ao mesmo tempo, duras derrotas a Israel e aos EUA, do prêmio Nobel da paz Barack Obama. Exceto por Canadá e República Tcheca, apenas os costumeiros protetorados estadunidenses ficaram ao lado de Israel, demonstrando que, ao menos neste assunto, a influência dos EUA é limitada ou que, talvez, tenha crescido a insatisfação pela falta de soluções propostas pelos aliados de Israel.

A abstenção do Reino Unido não foi uma surpresa, dada a proximidade deste país com os EUA, nem o voto do Paraguai governado por golpista. Por outro lado, a Espanha e seu voto favorável - pese a posição contrária anterior de Mariano Rajoy - surpreende devido aos "problemas" domésticos que enfrenta em termos de autodeterminação dos povos, um instrumento muitas vezes esquecido ou sufocado à base da força por diversos Estados.

Foi uma pequena vitória palestina na ONU, de efeitos práticos limitados, especialmente no que concerne a recuperação de suas terras, o Direito de Retorno e o bloqueio criminoso a Gaza.

Leia o artigo completo, online, no jornal Brasil de Fato.
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Mito da estabilidade do Cáucaso Norte

"Uma breve análise sobre a gênese e os desdobramentos atuais do conflito no Cáucaso Norte com ênfase na situação Chechena e Ingushe. Desrespeito aos direitos humanos e abusos são constantes numa das regiões mais conflituosas do mundo. O artigo busca ainda analisar o fenômeno do chamado “terrorismo islâmico” na região que veio a substituir ou pelo menos concorrer com os antigos movimentos nacionalistas."
Para o post completo, visitem o blog Trezentos!
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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Herança Maldita ou Quando vendemos nossa alma


Duas notícias repercutiram duro no Brasil, em especial no PT e nos seus militantes e admiradores.

Duas notícias lamentáveis e que mancham a história do PT de maneira definitiva e irrevogável.

O partido que ao assumir reclamava da "herança maldita" para não conseguir realizar as reformas sonhadas por quem os apoiou por anos, agora resolveu vender a alma para aqueles que deixaram a tal herança e, enfim, apenas demonstram que na política todos são iguais, basta mudar a foto, o conteúdo jamais muda.

Não bastou o PT vender sua história e apoiar avidamente Sarney, o caudilho que destruiu o Maranhão, não bastou o presidente de honra do PT, o presidente do Brasil, Lula, sair em defesa de Sarney afirmando que este era um exemplo de homem político, íntegro, um trabalhador (?), não bastou a venda de toda a ideologia à Inocêncios de Oliveira, Sarneys, Calheiros, PSDB's, PP's e afins, agora a nova onda é fazer juras de amor à nada menos que Collor, o ladrão, corrupto, safado e salafrário que roubou o país, foi deposto com amplo apoio popular - unanimidade? - e que, sabe-se lá como, voltou ao poder, agora como Senador.

Aliás, cabe um adendo, sabe-se sim como este energúmeno retornou, pelo voto de cabresto, pelo voto da ignorância, dos conchavos, compra de votos, intimidação e a mais pura ignorância. A Bahia tinha ACM, o Maranhão tem Sarney e Alagoas tem os Collor. É batata, candidatou-se, elegeu-se.

Alguns podem achar que a frase do presidente não implica em elogio, apenas constatação de fato, outros podem dizer que o presidente deu um "puxão de orelha", para usar um termo que os Globais adoram, e depois apenas afagou de leve, que não foi nada mas, convenhamos, dada a história de lutas do PT, de luta até mesmo contra este Collor que hoje afagam, não permitiria qu Lula, símbolo máximo do partido, se colocasse num mesmo palanque que Collor e Renan Calheiros. É simplesmente inaceitável.
"- Quero aqui fazer justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Renan (Calheiros) que têm dado uma sustentação muito grande ao trabalho do governo no Senado - afirmou Lula logo no início do discurso."
Concordemos que não foi um elogio, apenas um "simples" afago. Não importa, a venda da alma para usineiros, latifundiários, caudilhos, coronéis e toda a corja que manteve este país atrasado e corrupto, pobre e ignorante não se justifica. A troca de uma suposta sustentação do governo pela alma do PT e dos brasileiros não é justificável em hipótese alguma.

O governo do PT nos trouxe avanços? Sem dúvida, muitos. Mas também muito retrocesso e, o pior de tudo, a certeza de que não existe ética na política, que bandeiras não servem para nada, apenas para serem brandidas em campanha e guardadas no armário durante o governo.

Por um lado privatizações foram freadas, por outro a regulamentação do que já estava privatizado foi torpe.

O Bolsa Família foi um avanço, mas a falta de projetos e financiamento para que o povo passe a não mais precisar dela foi e está sendo um fiasco.

O ProUni foi um avanço, sem dúvida alguma, possibilitou que milhares de pessoas pobres pudessem estudar, mas acabou financiando e dando sobrevida à UniEsquinas como UniNove, Universo, Anhanguera, UniRadial e outras aberrações mais pelo país. Vale acrescentar que, caso o dinheiro fosse usado na concessão de bolsas apenas para universidades bem avaliadas - PUC's, Mackenzie, Unicap, etc - e o resto servisse para a revitalização e ampliação do ensino público em universidades federais, aí sim teríamos um projeto válido e realmente interessado em levar educação ao povo.

O MST foi menos atacado (excetuando ações individuais e criminosas no Rio Grande do Sul), mas o ritmo de assentamentos e a reforma agrária em si foi absurdamente menor que nos governos anteriores. Daí o Abril Vermelho e o rompimento do MST com o governo.

A UNE foi aparelhada e se tornou um apêndice supurado, a CUT pelegou em diversas questões relevantes até culminar com a criação da Intersindical, Conlutas...

O Banco do Brasil e a Caixa continuam com seus salários ridículos e com suas greves ignoradas pelo governo e pelos banqueiros - lembrem-se que Lula iria restaurar a dignidade e o orgulho de trabalhar nos bancos estatais!

Apenas para ficar em alguns exemplos.

Mas a economia.... Bem, esta está ótima! Apenas marolinhas....
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