quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dilma venceu. E agora? [Política Externa, um panorama histórico]

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Em termos de política externa o Brasil, em geral, teve uma posição quase impecável. Pese alguns deslizes (que no fim foram coerentes com as diretrizes do Itamaraty), a política externa do governo Lula e de Celso Amorim foi a melhor que tivemos desde Rio Branco e da política Getulista da Segunda Guerra (onde tentava conseguir o melhor seja da Alemanha, seja dos EUA).

O Barão do Rio Branco não só foi um dos artífices da expansão e consolidação de nossas fronteiras nacionais (vide a Questão do Acre), mas também aquele que, com a ajuda de um relutante Joaquim Nabuco, transferiu nosso centro de referência da Inglaterra para os EUA antes mesmo da decadência do Império Inglês estar visível a aparente para todos.

O pioneirismo de Rio Branco lhe vale até hoje lembrança e homenagens por ter sido o primeiro a enxergar que o mundo estava mudando. A partir da Primeira Guerra e especialmente após a Segunda a ousadia de Rio Branco se  provou correta e os EUA emergiram como principal ator internacional no ocidente.

Getúlio Vargas e seu chanceler, Oswaldo Aranha, pouco antes e no começo da a Segunda Guerra jogou de forma extremamente inteligente com os interesses tanto da Alemanha Nazista quanto dos EUA e, o segundo, em troca de nosso apoio, promoveu nossa primeira grande onda de industrialização.

Depois deste período em que nossa política externa primava pela ousadia e pela inteligência, oscilamos períodos negros de colaboracionismo com os EUA e de alguma independência sem, porém, grande brilhantismo.

Um dos períodos, sem dúvida, mais vergonhosos e mais subservientes aos interesses yankees foi, sem dúvida, o período que marca o aprofundamento do neoliberalismo e o auge das privatizações: O governo FHC com seu chanceler-capacho Celso Lafer.

Golpe final na moral brasileira e o fim de qualquer respeito que podíamos ter na arena internacional foi a estupidez de Celso Lafer retirar seus sapatos em um aeroporto estadunidense durante uma de suas visitas.


Fernando Henrique Cardoso e Celso Lafer conseguiram transformar o país em uma piada e praticaram a política externa mais vergonhosa e subserviente possível de se imaginar.

Foi a humilhação máxima que poderíamos passar e que só foi apagada pela política corajosa e ousada de Lula e Amorim.

Celso Amorim, juntamente com Samuel Pinheiro Guimarães no Itamaraty foram os artífices de uma nova mudança de eixo na nossa política externa, dos EUA para o terceiro mundo. Para os países em desenvolvimento, para a África, para a América Latina.

Se é fato que tivemos um início confuso e digno de muitas críticas - uma política errante de acordos com países africanos em que pouco ganhávamos em em termos financeiros ou mesmo políticos, com Lula chegando a desfilar até com ditadores como Omar Bongo - com o tempo a posição brasileira fez sentido e passou a ser amplamente respeitada.

Lula ser chamado por Obama de "o cara" foi apenas o reconhecimento final de uma política que já vinha sendo capitaneada com maestria há anos.

Ampliamos nossas alianças estratégicas com a África, fincamos nossa presença no Oriente Médio com o acordo Brasil-Irã-turquia que merece ser lembrado como um marco não só na diplomacia brasileira, mas mundial, desafiamos os EUA em muitos assuntos, nos colocando fora de sua órbita imediata de influência.

Mas, acima de tudo, corrigimos erros históricos na America Latina, ampliando e fortalecendo o Mercosul, apoiando a criação da Unasul (Unasur), marcando presença no Banco do Sul e apoiando politicamente nossos vizinhos latinoamericanos (vide a posição brasileira no golpe em Honduras).

O Brasil hoje abandonou parte de seu sub-imperialismo e passou a agir mais como parceiro na construção de uma identidade sul-americana, buscando parcerias com seus vizinhos e a construção de uma relação sólida.

O Brasil abandonou a subserviência aos EUA passando até mesmo a opor-se aos seus interesses.

O acordo Brasil-Irã-Turquia é o exemplo perfeito da situação em que o Brasil se colocou no espectro oposto aos dos interesses yankees, assim como a relação forte entre o nosso governo e o iraniano, ou mesmo com o governo venezuelano. A última novidade foi a oferta por parte do Brasil para mediar os acordos no Oriente Médio entre a Palestina e o Estado Genocida de Israel.

O Brasil, corretamente, defende o direito do Irã de ter um programa nuclear pacífico. Se o Irã tem interesses além é questão a ser discutida em outro foro, na ONU e com provas e não enfiado goela abaixo como quer/faz os EUA. Daí a importância do acordo Brasil-Irã-Turquia não só para o Irã, mas para a posição brasileira no mundo.

Com Amorim e Lula abrimos dezenas de embaixadas e ampliamos nossa atuação no cenário internacional e nos aproximamos cada vez mais de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, ainda que, ao menos moralmente, estejamos desempenhando já um papel de membro-permanente, ao participar das grandes rodadas internacionais.

Saímos de uma situação de subserviência, de aparelhamento e emparelhamento automático com os EUA, de uma potência tímida, até mesmo repudiada pelos vizinhos latinoamericanos para uma posição de liderança mundial, de país admirado por sua independência e proatividade.

Hoje somos respeitados e mais, presença habitual nas mais altas esferas internacionais. Celso Amorim será, nos próximos anos, lembrado como grande artífice da política externa brasileira do início do século XXI.
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